Lembrei-me hoje da história dos cegos tentando descrever um elefante: um deles apalpa a tromba e diz que o elefante se parece com uma cobra. Outro toca a orelha e declara que o elefante se parece com um leque. Um terceiro, abraçando uma das patas, o considera parecido com um tronco de árvore. O quarto, tocando-lhe o lado, acredita que o elefante se pareça com uma parede. Um quinto, segurando a cauda, o descreve como semelhante a um pedaço de corda.
Esta parábola serve para todos nós, em todos os dias de nossas vidas. Nem sempre temos uma visão do todo das coisas. E, mesmo quando aparentemente temos, temos um ponto de vista, e não todos.
Se não fosse assim, não existiriam exaustivas discussões em programas esportivos a respeito de um determinado lance ter sido ou não impedimento, ter sido ou não falta. Caso o juiz estava na mesma posição do locutor, para ver o lance do mesmo modo? Ou este tinha o ângulo de visão do juiz? O que adianta a simulação computadorizada demonstrar que o jogador estava meio centímetro adiante do adversário, se no ângulo de visão do bandeirinha ele parecia estar atrás?
Talvez, também, seja esta a maior dificuldade das pessoas em compreender a Teoria da Relatividade,de Einstein: Um passageiro sentado em uma poltrona de um trem que viaja, afinal está parado ou em movimento? O passageiro ao seu lado vai morrer jurando que ele esteja parado, enquanto o chefe da estação garantirá que ele estava em movimento.
Humoristas exploram bastante as situações que não são o que pareciam ser. Escritores de suspense também o fazem com frequência
A fria letra da lei deveria ser impessoal, no entanto permite diversas interpretações.
Jesus Cristo, para os cristãos, é a manifestação encarnada de Deus. Para os muçulmanos, é um profeta. Para os budistas, um dos muitos budas que surgiram para guiar a humanidade.
Um fato, visto de maneira isolada, pode levar a uma conclusão totalmente diversa do que ele representa dentro de todo um contexto.
Com tantas possibilidades para cada situação, é possível termos segurança para fazermos julgamentos definitivos? Podemos ter a certeza de que nunca nos enganaremos?
Existe uma verdade absoluta? Eu não sei. Não acredito que exista.
E, pensando sobre este assunto, me vieram à mente os versos do Raul Seixas, na música Metarmorfose Ambulante, que ilustra este post:
"Prefiro ser esta metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo".