Sorriso obrigatório

Há alguns dias eu ouvi no rádio uma notícia dizendo que o metrô de Tóquio irá instalar câmeras em 15 estações, ligadas a um sistema informatizado que irá medir o grau de sorriso dos funcionários. Os mais sisudos serão advertidos para não ficarem tão sérios e serem mais gentis. A informação continuava, citando outros possíveis usos para a tecnologia, mas este ponto inicial preocupou-me.
É claro que eu prefiro ser atendido por pessoas simpáticas e sorridentes. Concordo que devemos evitar misturar trabalho e problemas pessoais.
Mas levo em conta que ninguém é um robô. É impossível a pessoa simplesmente desligar o que sente durante o horário de trabalho. Não dá para deixar os sentimentos no cabide, junto com o casaco, e pegar na volta.
A advertência de hoje pode tornar-se o motivo para demissão de amanhã. Isto é justo?
Da mesma maneira, é justo privar as pessoas do direito aos seus sentimentos? Obrigar a serem, ou aparentarem ser, eternamente felizes?
Trabalhei em uma empresa que preconizava o chamado “atendimento feliz”. Um nome inadequado, na minha opinião. Mas ao menos, na ocasião, levava-se em conta que os atendentes eram, antes de mais nada, seres humanos. Em caso de necessidade, conversava-se, procurava-se ajudar a pessoa a melhorar seu estado geral de ânimo. E não dar-lhe uma advertência.
Até porque, um sorriso forçado é perfeitamente visível para a pessoa que estiver sendo atendida. E talvez não seja perceptível para o software.
E eu prefiro ser atendido por alguém que, mesmo não estando em seus melhores dias, saiba ser cordial, a uma pessoa que ostenta um sorriso visivelmente falso.