Recebeu a ficha de controle das mãos do fiscal e dirigiu-se para sua cadeira, enquanto falava ao celular. O emprego de cobrador não lhe era totalmente ruim. Claro, o salário poderia ser um tantinho melhor. Mas haviam compensações. Falar ao celular quando quisesse, por exemplo, era uma delas.
Tinha grande amizade com o motorista, havia duplas que não se toleravam, trabalhar desta forma com certeza seria pior. E o medo de assaltos diminuira, pois com o bilhete eletrônico, a maioria das pessoas não mais paga a passagem com dinheiro. Fica mais complicado quando um ou outro passageiro tenta pagar com uma nota de maior valor, geralmente alegando não possuir outra. Ele sabe que na maioria das vezes é um truque para a pessoa viajar de graça, mas não se incomoda. Tem uma justificativa e, de qualquer forma, não vai ter de pagar pela passagem.
O ônibus já saiu do ponto final razoavelmente lotado. Pouco depois, suas "amigas" começaram a cercá-lo.
Bem, cercar talvez não seja a melhor palavra, uma vez que todas se aglomeravam no pequeno espaço para deficientes, próximo à catraca. Eram umas cinco ou seis, desta vez. Pelo horário, a maioria seria de vendedoras de shopping centers, dirigindo-se para o trabalho no turno da tarde. Se fosse mais cedo, o público mudaria. Domésticas, auxiliares administrativas, estudantes...
Terminou a conversa ao celular, guardou o aparelho no bolso e esperou o primeiro comentário de uma delas. Não tardou a vir. Um comentário banal de uma delas, sobre o tempo, parece que vai chover mais tarde. Uma resposta e já é o suficiente para todas entrarem na conversa. E, com uma pergunta aqui, outra ali, a viagem parece ser mais rápida.
Embora os assuntos mudem ao longo da viagem, não mudam muito de uma viagem para outra. Fala-se do tempo, do trânsito, alguma coisinha de política, sempre criticando o governo, algum comentário sobre trabalho... Geralmente tem alguma passageira que toca no assunto família, fala de filhos, marido, namorado ou algo assim. Isto parece ser uma senha para que uma passageira mais saidinha lhe pergunte se é casado, se tem namorada... Ele geralmente se esquiva com alguma brincadeira ou resposta espirituosa. Tem sempre o cuidado de evitar falar de sua vida pessoal nestas conversas.
Finalmente o ônibus chega ao final da viagem e da conversa. A maioria delas demora-se, a dar a vez a todos os demais passageiros que ainda não pagaram a viagem. Também isto não é novidade para ele. Depois do último pagante passar pela catraca e de uma olhada para ver se não havia nenhum fiscal por perto, ele profere a aguardada sentença:
- Podem descer pela frente, sem pagar a passagem.
(Livre adaptação de uma situação que eu realmente presenciei)
Tinha grande amizade com o motorista, havia duplas que não se toleravam, trabalhar desta forma com certeza seria pior. E o medo de assaltos diminuira, pois com o bilhete eletrônico, a maioria das pessoas não mais paga a passagem com dinheiro. Fica mais complicado quando um ou outro passageiro tenta pagar com uma nota de maior valor, geralmente alegando não possuir outra. Ele sabe que na maioria das vezes é um truque para a pessoa viajar de graça, mas não se incomoda. Tem uma justificativa e, de qualquer forma, não vai ter de pagar pela passagem.
O ônibus já saiu do ponto final razoavelmente lotado. Pouco depois, suas "amigas" começaram a cercá-lo.
Bem, cercar talvez não seja a melhor palavra, uma vez que todas se aglomeravam no pequeno espaço para deficientes, próximo à catraca. Eram umas cinco ou seis, desta vez. Pelo horário, a maioria seria de vendedoras de shopping centers, dirigindo-se para o trabalho no turno da tarde. Se fosse mais cedo, o público mudaria. Domésticas, auxiliares administrativas, estudantes...
Terminou a conversa ao celular, guardou o aparelho no bolso e esperou o primeiro comentário de uma delas. Não tardou a vir. Um comentário banal de uma delas, sobre o tempo, parece que vai chover mais tarde. Uma resposta e já é o suficiente para todas entrarem na conversa. E, com uma pergunta aqui, outra ali, a viagem parece ser mais rápida.
Embora os assuntos mudem ao longo da viagem, não mudam muito de uma viagem para outra. Fala-se do tempo, do trânsito, alguma coisinha de política, sempre criticando o governo, algum comentário sobre trabalho... Geralmente tem alguma passageira que toca no assunto família, fala de filhos, marido, namorado ou algo assim. Isto parece ser uma senha para que uma passageira mais saidinha lhe pergunte se é casado, se tem namorada... Ele geralmente se esquiva com alguma brincadeira ou resposta espirituosa. Tem sempre o cuidado de evitar falar de sua vida pessoal nestas conversas.
Finalmente o ônibus chega ao final da viagem e da conversa. A maioria delas demora-se, a dar a vez a todos os demais passageiros que ainda não pagaram a viagem. Também isto não é novidade para ele. Depois do último pagante passar pela catraca e de uma olhada para ver se não havia nenhum fiscal por perto, ele profere a aguardada sentença:
- Podem descer pela frente, sem pagar a passagem.
(Livre adaptação de uma situação que eu realmente presenciei)
17 comentários:
Interessante e muito bem descrito, sim.
Boa semana.
Ainda há, felizmente, pessoas com bom coração.
Beijito.
Bela narração, amigo... e bela a atitude do cobrador, não? :) Mas, respondendo à sua pergunta feita lá no oásis, eu acredito que as tarefas do nosso aprendizado sejam feitas no dia-a-dia, sim... e não se findam até que ele esteja completo. :) Meu abraço, boa semana.
Olá Amigo
Bela estoria e bela mensagem
Beijinhos pra ti pra tu Loba
São,
Falta muito para ficar bem escrito. Quanto a ser interessante, bem, eu diria que o dia-a-dia é interessante, apenas não o percebemos.
Obrigado pela visita!
Secreta,
Desculpe-me, mas discordo um pouco. O que houve, neste caso, foi oportunismo, ficarem de conversa com o cobrador para não pagarem a passagem, enquanto todos os outros passageiros pagaram.
Beijo!
Árabe,
Uma atitude de "levar vantagem", infelizmente bem típica do brasileiro.
Abraços!
Feiticeira,
Uma ocorrência de todos os dias, apenas. Agora, mensagem? Não sei, sinceramente apenas tentei retratar a situação.
Beijos, meus e da minha Loba. Boa semana!
Pensador,
Me vi dentro do ônibus.
Quando eu trabalhava longe de casa, preferia ir de coletivo e, durante cinco anos, presenciei muitas conversas assim. Só não sei se desciam pela frente, porque eu desembarcava antes do final.
Um abraço!
Alcides
Alcides,
Eu tenho quase certeza de que desciam pela frente, sem pagar. É o normal.
Durante muito tempo, em função da dificuldade de acesso ao local de trabalho, fui de carro. Hoje voltei a usar o ônibus, onde posso presenciar cenas como esta. E outras coisas interessantes de se observer, claro...
Abraços!
Como diz e bem nosso PENSADOR o quotidiano é um maná, basta que estejamos atentos. Desenvolver o espírito de observação sem ir ao ponto daquela intromissão agressiva, quase obscena, é um exercício interessante e que nos permite histórias destas.
Sobre a escrita, se o quotdiano é assim simples na sua riqueza, para quê complicar na descrição?
Meu Pensador,
Paginas da vida.
Situações que se tornam rotina no dia a dia e tu como observador descreves-te muito bem.
Em certas ocasiões encontramos pessoas com bom coração ....mas em outras que depende não ter?Não é mesmo???
Gostei de te ler como sempre,apesar de ter vindo aqui um pouquinho tarde me sinto sempre a tempo de aqui te vir encontrar.
Este mês meu tempo é curtissimo!!!
Mas é sempre uma alegria vir tomar um café com meu amigo Lobo!Quando sua Loba amada estiver...beberemos um chá,das tres :))
Bjinhos cheios de luar....e não se esqueça de dár um para a Loba!Não fique com eles todos para si!!!!!
Ferreira-Pinto,
Obrigado pelo comentário e pela opinião sobre a escrita. Quanto à observação do quotidiano, é um exercício qyue, se todos fizessem, além de poder se divertir, talvez adquirissem um pouco mais de respeito pelas outras pessoas como seres humanos, e não em função de cargo ou status social, como infelizmente tem sido nosso mundo.
Abraço, amigo!
Moonlight, querida,
Obrigado pela visita. Este é um mês corrido para todos, e eu mesmo não tenho feito todas as minhas rondas como gostaria pelos blogs dos amigos.
Mas aqui sempre haverá café quente e esperando por vocês. Forte e semaçúcar, como eu gosto, mas com o açucareiro (e o adoçante, para quem preferir) sempre à mão.
E fique tranquila, compartilho todos os meus beijos com a minha Loba amada, ela nunca fica sem.
Um beijo, e um uivo!
Bem...nas tuas palavras não pareceu oportunismo. Mas, a interpretação do que se escreve, cabe a cada um.
Bom fim de semana :)
Secreta,
Faz sentido o entendimento, assumo que não foi dos meus melhores textos.
Beijos, e bom final de semana.
Cotidiano, cotidiano. Texto bem gostoso de ler. Um abraço.
Ah obrigada pelas boas vindas rsrsr
Dea,
Que bom que gostou.
Como eu disse, sei que não é dos meus melhores, mas um dia eu aprendo a escrever.
Obrigado pela visita.
Beijo!
Meu querido Pensador.
Ando a deitar meus comentários em dia.
Sabes, eu em meus 500 anos de vida só andei uma vez de ônibus (bus)
Antes andava de Camelo, era muito mais divertido e barato
Não enganava ninguém, não tinha que pagar, não tinha que andar apertada
Andava ao ar livre e de muito boa vontade, o pior era quando o Camelo teimava feito Camelo ihihiih.
Senhor pensador, confesso que este seu post não o achei dos mais interessantes
Será que é porque eu nunca andei de ônibus que não o achei?
Mas se diga a verdade, estas a deitar teu povo Brasileiro mal, estas a tentar dizer que existe ai muitas pessoas sem caracter
Bem, pé entre pé vou sair andes que leve com a vassoura da Loba
Beijos pra ti e teu lindo e maravilhoso amor, ela é linda não é?
Rachel, de bom humor, e o que vale é que a loba é minha amiga.
Rachel,
Infelizmente o brasileiro tem, sim, a cultura do "levar vantagem em tudo". O que não é realmente vantagem para ninguém, e é uma pena que meu povo pense assim.
Mas fazer o que, além de fazer a minha parte e rezar para melhorar?
Beijops meus e do meu amor.
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